A Mulher Indiana

Como no livro Cem textos de história chinesa, destaquei a questão da mulher da sociedade para garantir-lhe um olhar especial. A Índia foi, sem dúvida, um país misógino desde os seus inícios. Os cultos tântricos foram uma reação ao machismo generalizado que dominava da religião as práticas sociais mais comuns. Por isso, devemos atentar a situação complexa que dominava a mulher indiana desde a antiguidade. Sujeita a família e a acordos de casamento, induzida a jogar-se na pira funerária de seu marido, a mulher indiana tem, a muito custo, reformulado seu papel na sociedade indiana moderna, alcançando sucessos notáveis. Acompanhemos essa trajetória: nas leis de manu, veremos as duras condições da vida de uma ‘mulher de família’; o grihya sutra apresente, igualmente, os seus difíceis deveres matrimonias, e seu papel de doméstica; o arthashastra, contudo (e sempre realista), legisla sobre a posição da mulher na sociedade (inclusive, sobre as prostitutas) de modo a considerá-las como seres possuidores de direitos; já o ananga ranga (texto contemporâneo ao kamasutra) define os caracteres de uma boa esposa, conquanto o próprio kamasutra explica os ‘tipos femininos’ que podem ser encontrados. Lembremos: o kamasutra, quase todo, é feito de regras, e a parte da dinâmica do intercurso sexual é a menos importante de todas. Quanto à Índia moderna, que luta para redefinir a história de suas mulheres, a intelectual Vandana Shiva dá o tom da revolução que o feminino opera nessa país nos dias de hoje.


85. A posição do feminino, no manavadharmashastra

Por uma menina, uma moça ou mesmo uma mulher idosa, nada deve ser feito independentemente, nem mesmo em sua própria casa.
Na infância, a menina deve estar submetida a seu pai, na mocidade a seu marido; quando seu senhor morre, a seus filhos; uma mulher jamais deve ser independente.
Ela não deve buscar separar-se de seu pai, marido ou filhos; deixando-os, ela tornaria tanto sua própria família quanto a de seu esposo dignas de desprezo.
Ela deve ser sempre alegre, inteligente na direção das questões domésticas, cuidadosa com seus utensílios e econômica nas despesas.
Aquele a quem seu pai possa dá-la, ou seu irmão com permissão do pai, será obedecido por ela enquanto viver, e quando morrer, ela não devera insultar sua memória.
Com o fito de trazer boa sorte as noivas, a recitação de textos bendizentes e o sacrifício ao Senhor das criaturas são usados nos casamentos, mas o matrimônio pelo pai ou guardião é a causa do domínio do marido sobre sua esposa.
O marido que a esposou com textos sagrados sempre dá felicidade à esposa, tanto na estação quanto fora dela, neste mundo e no seguinte.
Embora destituído de virtudes, ou buscando o prazer noutro lugar, ou despido de boas qualidades, ainda assim um marido deve ser constantemente adorado como um deus por uma esposa fiel.
Nenhum sacrifício, voto ou jejum deve ser executado por mulheres separadas de seus maridos; se uma esposa obedece a seu marido, será por esse motivo apenas exaltada no céu.
Uma esposa fiel, que deseja morar com seu marido após a morte, jamais deverá fazer qualquer coisa que desagrade aquele que tomou sua mão, esteja morto ou vivo.
Se quiser, ela poderá emagrecer o corpo vivendo de flores, raízes e frutas, mas jamais deverá mencionar o nome de outro homem depois de ter morrido seu marido.
Até a morte deve ser paciente quanto as dificuldades, controlada e casta, e esforçar-se por cumprir aquele mais excelente dos deveres, prescrito as esposas que têm apenas um marido.
Violando seu dever com relação ao marido, uma esposa se desgraça neste mundo; depois da morte ela entrara no ventre de um chacal e será atormentada por doenças, a punição por seu pecado.
Aquela que, controlando seus pensamentos, palavras e atos, jamais rebaixar seu senhor, reside apos a morte com seu marido no céu, e é chamada uma esposa virtuosa.
Um homem nascido duas vezes, versado na lei sagrada, queimará uma esposa de casta igual que se conduza assim e morra antes dele, com os fogos sagrados usados para Agnihotra e com os artigos sacrificais.
Tendo assim no funeral dado os fogos sagrados a sua esposa morta antes dele, ele poderá casar-se de novo, e manter vivos os fogos.


86. O casamento no grihya sutra

Que ele examine primeiro a família da noiva ou do noivo em vista. Que ele dê a moça a um jovem dotado de inteligência. Que ele se case com uma moça que mostre as características de inteligência, beleza e conduta moral, e esteja livre de doença. Como as características são difíceis de discernir, que ele faça oito montinhos de terra, recite sobre os mesmos a formula seguinte: "O direito nasceu primeiro, no início - sobre o direito a verdade esta fundada. Para o destino que nasceu essa moça, possa ela cumpri-lo aqui. O que é verdade que possa ser visto", e diga a moça: "Toma um destes".
Se ela escolher o montinho tomado de um campo que dá duas Colheitas por ano, ele poderá saber - "A progênie dela será rica em alimento". Se de um estábulo de vaca, rica em gado. Se da terra de um altar, rica em brilho sagrado. Se de um poço que não seca, rica em tudo. Se de um lugar de jogo, viciada na jogatina. Se de um lugar onde quatro estradas se cruzam, inclinada a direções diferentes. Se de um lugar estéril, pobre. Se de um cemitério, trará morte ao marido. Tendo posto ao lado ocidental do fogo uma mó, ao noroeste um vaso de água, com sua face voltada para o ocidente ele devera com a fórmula "Tomo tua mão pela felicidade" segurar-lhe o polegar se quiser que nasçam apenas filhos homens, os demais dedos dela se ele quiser filhos mulheres, e a mão ao lado do cabelo juntamente com o polegar, se quiser filhos de ambos os sexos.
Conduzindo-a três vezes em volta ao fofo e ao vaso de água, de modo que seus lados direitos estejam votados para o fogo, ele murmura: "Isto sou eu, isso és tu; isso és tu, isto sou eu; isso és tu; isso és tu, isto sou eu; eu o céu, tu a terra. Vem! Casemo-nos aqui. Vamos procriar. Amando, alegres, combinando em espírito,
possamos viver cem outonos".
Cada vez que ele a tenha conduzido assim em volta, fará que ela pise na pedra, com as palavras: "Pisa nesta pedra; sé firme como uma pedra. Vence os inimigos, esmaga-os".
Tendo primeiramente derramado manteiga derretida sobre as mãos dela, o irmão da moça ou uma pessoa funcionando em lugar do mesmo derrama grão frito duas vezes sobre as mãos juntas da esposa.
Derrama novamente manteiga derretida sobre ó que ficou do alimento sacrifical e sobre o que foi cortado fora.
Ela deve sacrificar o grão frito sem abrir suas mãos juntas. Sem essas voltas em tomo ao fogo, ela sacrifica o grão, com a ponta de uma cesta em sua direção.
Ele então solta os dois cachos de cabelo dela, se estiverem feitos, isto é, se dois tufos de lã estiverem enrolados em torno ao seu cabelo nos dois lados.
Ele faz então que ela ande a frente numa direção nordeste, dando sete passos e dizendo as palavras seguintes: "Para a seiva com um passo, para o suco com dois passos, para prosperar cinco passos, para as estações com seis passos. Sê amiga com sete passos. Sê assim dedicada a mim. Tenhamos muitos filhos, que atinjam idade provecta".
Juntando suas cabeças, o noivo as asperge com água do vaso de água.
E ela deverá morar aquela noite na casa de uma velha mulher brâmane cujo marido esteja vivo e cujos filhos estejam vivos.
Quando ela vir a estrela polar, a estrela Arundhati e a Ursa Maior, que rompa seu silêncio e diga: "Possa meu marido viver e eu ter progênie!"
Se o casal recém-unido tiver de fazer uma viagem a seu novo lar, que ele a faça montar na carruagem com o verso: "Que Pushan te conduza daqui segurando tua mão!" Todo o tempo eles levarão o fogo nupcial a frente.
Nos lugares aprazíveis, arvores e encruzilhadas, que ele murmure o verso: "Que não encontremos assaltantes!"
Em todos os lugares de moradia que encontrarem em seu caminho, ele devera olhar os espectadores e dizer o verso: "A boa sorte traz esta mulher!” Com o verso "Aqui possa o prazer se cumprir para ti pela progênie”
Ele deverá fazê-la entrar na casa.
Tendo posto o fogo nupcial em seu lugar e espalhado ao lado ocidental do mesmo a pele de um touro com o pescoço para o oriente e o pêlo para cima, ele faz oblações, enquanto ela se senta nessa pele e o segura; ele partilha em coalhada e da também para ela, ou então lambuza seus dois corações com o resto da manteiga que usou no sacrifício. A partir desse dia, não deverão comer alimento salino, devendo manter-se castos, usar ornamentos, dormir no chão três noites ou doze noites, ou um ano, de acordo com alguns mestres; com isso, dizem, um Vidente nascerá como seu filho.

87. O acordo de casamento, no Arthashastra

O casamento é a razão de todas as disputas. Ao dar em casamento uma virgem bem dotada, chamamos de "casamento Brahma"; Homem e mulher unidos por deveres sagrados, é conhecido como "prajapatya"; Ao dar em casamento uma virgem em troca de um par de vacas é chamado de "Arsha "; o casamento de uma virgem com um sacerdote oficiante de um sacrifício é chamado de "Daiva"; a união voluntária de uma virgem com seu amante é chamado de "Gandharva". Trocar uma virgem depois de receber riquezas abundantes é chamado de "casamento Asura". O rapto de uma virgem é chamado de "Rakshasa". O rapto de uma virgem, enquanto ela ainda está dormindo ou embriagada é chamado de "Paisacha". Destes, os quatro primeiros são costumes ancestrais dos antigos e são válidos para serem aprovados pelo pai. O restante são para serem sancionados tanto pelo o pai como pela mãe, pois são eles que recebem o dinheiro pago pelo noivo de sua filha. Em caso de ausência por morte de pai ou da mãe, o sobrevivente receberá o dinheiro do pagamento. Se ambos estiverem mortos, a virgem se deve recebê-lo. Qualquer tipo de casamento é aprovável, desde que agrade todos aqueles que estão em causa no mesmo.[...] Se uma mulher não consegue Dara a luz a uma criança viva, ou não tem nenhuma do sexo masculino, ou é estéril, seu marido deve esperar por oito anos antes de se casar com outra. Se ela teve apenas uma criança que morreu, ele tem que esperar por 10 anos. Se ela pariu apenas meninas, ele tem que esperar por 12 anos. Então, se ele está desejoso de ter filhos, ele pode casar com outra. Se um marido ou é de mau caráter, ou está muito longe no exterior, ou tornou-se um traidor de seu rei, ou é susceptível de pôr em perigo a vida de sua esposa, ou que tenha caído de sua casta, ou perdeu a virilidade, ele pode ser abandonado por sua esposa.


88. Prostitutas, no Arthashastra

Uma prostituta que se recusar a atender um cliente depois que esse a pagou, será multada no dobro da quantia; se recusar um cliente, será multada em oito vezes o acertado – exceto se esse for doente ou defeituoso. Se ela matar um cliente, será queimada viva ou afogada. Se uma prostituta roubar roupas ou jóias de um cliente, alem de ser obrigada a restituir o devido, ela deverá pagar oito vezes o valor do roubado.
As prostitutas devem informar o superintendente das prostitutas sobre seus clientes, suas rendas obtidas e pretendidas. [...] toda prostituta deverá pagar ao governo, mensalmente, a receita equivalente a dois dias de trabalho.


89. Deveres de uma esposa, no Arthashastra

Mulheres atingem a maioridade aos doze anos, os homens aos 16 anos de idade. Se, depois de atingir sua maioridade, eles continuam desobedientes à autoridade legal, as mulheres devem ser multadas em quinze panas, e os homens o dobro da quantia. Uma mulher tem o direito de reivindicar seu sustento por um período ilimitado de tempo, e lhe deve ser dada tanta comida e roupas quanto for necessário para ela, ou mais do que o necessário, de acordo com os rendimentos de quem a sustenta. Mulheres de natureza difícil não devem aprender boas maneiras com o uso de expressões chulas. Não se deve puni-las com mais de três pancadas, seja com uma ripa de bambu, corda ou com a palma da mão nas nádegas. Violar essas regras é um crime de difamação, passível de punição pela lei. Os mesmos tipos de punições devem ser dadas a uma mulher que, movida pela inveja ou ódio, mostra a crueldade de seu marido.
Uma mulher que odeia o marido, que já passou o período de sete voltas de sua menstruação, e que ama outro, deve retornar imediatamente ao seu marido tanto os bens como as jóias que recebeu dele, e permitir-lhe que se deite com outra mulher. Um homem, odiando sua esposa, deve permitir que ela se abrigue na casa de uma mendiga, ou de seus tutores legais, ou de seus parentes. Uma mulher, odiando seu marido, não pode se divorciar dele contra sua vontade. Nem pode um homem repudiar sua mulher contra sua vontade; mas a partir de uma inimizade mútua, o divórcio pode ser obtido.
Se uma mulher se envolve em esportes amorosos ou se embriaga despudoradamente, ela será multada em três panas. Ela deverá pagar uma multa de seis panas se sair durante o dia para seus ‘esportes’, para ver outra mulher ou espetáculos. Ela deverá pagar uma multa de doze panas, se ela sai para ver outro homem ou competições. Pelas mesmas infrações cometidas durante a noite, a multa será aplicada em dobro. Se uma mulher sai, enquanto o marido está dormindo ou embriagado, ou se ela fecha a porta da casa na cara do marido, ela será multada doze panas. Se uma mulher o mantiver fora da casa durante a noite, ela pagará o dobro da multa acima. Se um homem e uma mulher fazem sinais uns aos outros, com vista ao gozo sensual, ou continuar a conversar secretamente para o mesmo fim, a mulher deve pagar uma multa de vinte e quatro panas, e o homem o dobro do montante. Por manter conversa em lugares suspeitos, as chicotadas previstas podem ser substituídas por multas. No centro da aldeia, uma pessoa intocável (sem casta, pária) pode chicotear tais mulheres cinco vezes em cada um dos lados do seu corpo.


90. Caracteres da mulher, ananga ranga

E como os homens estão divididos em três classes pelo comprimento do Linga (pênis), do mesmo modo estão as mulheres em 4 tipos, Padmini, Chitrini, Shankhini e Hastini, que podem ser subdivididas em três tipos, de acordo com a profundidade e extensão da Yoni (vagina). Estas são as Mrigi, também chamadas Harini, o mulher-corça, a Vadava ou Ashvini, mulher-égua, e as Karini, ou mulher-elefante.
A Mrigi tem um Yoni com seis dedos de profundidade. O corpo dela é delicado, com aspecto de menina, macio, e boa de tocar. Sua cabeça é pequena e bem proporcionada; seu seio destaca-se bem; sua barriga é fina e desenhada, suas coxas e pernas são carnudas, e sua constituição abaixo dos quadris é sólida, enquanto os braços de cima para baixo dos ombros são grandes e arredondados. Seu cabelo é grosso e encaracolado, seus olhos são pretos como a escuridão da flor de lótus; suas narinas são grandes; as bochechas e a boca são grandes; suas mãos, pés e lábio inferior são corados, e seus dedos são retos. Sua voz é a do pássaro Kokila, e sua marcha é como o vagar do elefante. Ela come moderadamente, mas é muito viciado no prazer do amor, ela é carinhosa, mas ciumenta, e ela é tem uma mente ativa quando não subjugada por suas paixões. Seu Kama-salila tem o perfume agradável da flor de lótus.
A Vadava ou Ashvini tem nove dedos de profundidade. O corpo dela é delicado, seus braços são grossos de cima para baixo dos ombros; seus seios e quadris são largos e carnudos, e sua região umbilical é de alto relevo, mas sem barriga protuberante. Suas mãos e pés são vermelhos como as flores, e bem proporcionados. Sua cabeça pende para a frente e é coberta de pêlos longos e retos; sua testa é recuada; o pescoço e comprido, sua garganta, olhos e boca são amplas, e seus olhos são como as pétalas da flor de lótus escuras. Ela tem um andar gracioso, e ela adora dormir e viver bem. Embora colérica e versátil, ela é carinhosa com o marido, ela não é fácil de chegar ao gozo, e seu Kama-salila é perfumado como o lótus.
A Karini tem um Yoni de doze dedos de profundidade. Tem o corpo limpo, tem seios grandes, seu nariz, ouvidos e garganta são longos e grossos; suas bochechas são sopradas ou expandidas; seus lábios são longos e curvados para fora; os olhos dela são ferozes e tingido de amarelo; seu rosto é largo; seu cabelo é grosso e um pouco escuro; seus pés, mãos e braços são curtos e gordos, e os dentes são grandes e afiados como de um cão. Ela é barulhenta quando come, sua voz é dura e áspera, ela é gulosa ao extremo, e suas articulações estalam com cada movimento. De uma disposição perversa e totalmente sem vergonha, ela nunca hesita em cometer o pecado. Animada e agitada por desejos carnais, ela não é facilmente satisfeita, e exige relações extraordinariamente prolongadas. Seu Kama-salila é muito abundante, e sugere o suco que flui das têmporas do elefante.
O homem sábio deve ter em mente que todas essas características não são tão bem definidas e suas proporções podem ser conhecidas apenas pela experiência. Principalmente os temperamentos são misturados, muitas vezes encontramos uma combinação de duas e em alguns casos até de três.


91. Boas esposas, do kama sutra

A mulher virtuosa, que tem afeto por seu marido, deve agir em conformidade com seus desejos como se fosse um ser divino, e com o seu consentimento deve tomar nas suas próprias mãos todo o cuidado de sua família. Ela deve manter toda a casa bem limpa, e arranjos de flores de diversos tipos em diferentes partes da mesma, e deixar o piso liso e polido, de modo a dar a toda uma aparência limpa. Ela deve cercar a casa com um jardim, e deixar nele todos os materiais necessários para os sacrifícios da manhã, tarde e noite. Além disso, ela deve reverenciar o santuário dos deuses domésticos, pois, diz Gonardiya, "nada mais atrai o coração de um pai de família que uma esposa devotada”
Para os pais, parentes, amigos, irmãs e servos de seu marido, ela deve se comportar como eles merecem. No jardim ela deve plantar canteiros de verduras, molhos de cana-de-açúcar, e aglomerados da figueira, a planta de mostarda, a planta da salsa, a planta erva-doce... Cachos de flores diversas, como o jasmim, o amaranto amarelo, o jasmim selvagem, rosas e outros, devem também ser plantadas, em conjunto com a fragrância do capim, e de raízes perfumadas. Ela também deve ter colocar cadeiras e caramanchões no jardim, e no meio dele escavar um poço, tanque ou piscina.
A mulher deve sempre evitar a companhia de mendigos do sexo feminino, mendigas budistas, as mulheres impuras e malandras, os adivinhos do sexo feminino e bruxas.
Nas refeições deve considerar sempre o que o marido gosta e do que ele não gosta, o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. Ao ouvir seus passos voltando para casa, deve se levantar, se aprontar ao seu dispor e preparar-se para lavar seus pés.
Se vai sair com ele, deve se enfeitar, e não deve ir a lugar nenhum sem consentimento dele, seja ir a casamentos, sacrifícios, visitar templos ou amigas.
Não deve se envolver em jogos sem a permissão do marido. Deve sempre estar atrás dele, e não despertá-lo quando dorme.
Deve cozinhar em lugar reservado e longe de olhares de estranhos.
Em caso do marido se comportar mal, ela não deve brigar com ele, mesmo estando descontente. Não deve usar de palavras duras, mas conciliadoras. Diz Gonardiya: uma mulher assim nunca causa desagrado.


92. Cortesãs, kama sutra

A mulher deve ter as seguintes características:
Ela deve ser dotada de beleza e amabilidade, com marcas auspiciosas no corpo. Ela deve ter bom gosto para se relacionar com as pessoas, como também o gosto pela riqueza. Ela deve ter prazer em uniões sexuais, decorrentes de amor, e deve ser de uma mente firme, com o mesmo gosto pelo gozo sexual que os homens apreciam.
Ela deve ser sempre ansiosa para adquirir experiência e conhecimento, estar livre de avareza, e gostar de reuniões sociais e das artes.
A seguir, são as qualidades de todas as mulheres cortesãs:
Ser dotada de boas maneiras, inteligência, boa disposição, ser simples de comportamento, ser grata; ser previdente; ter ou realizar algum tipo de afazer ou trabalho, e ter um conhecimento dos tempos e lugares adequados para fazer as coisas; falar sempre sem maldade, sem gargalhadas, raiva, avareza, estupidez, ter conhecimento do Kama Sutra, ser qualificada em todas as artes ligadas a ela.
Suas falhas estão em não possuírem as virtudes acima relacionadas.


93. Mulheres que se entregam facilmente, kama sutra

As mulheres que se entregam facilmente são aquelas:
Mulheres que estão às portas de suas casas
Mulheres que estão sempre olhando para fora na rua
Mulheres que se sentam para conversar na casa de seu vizinho
Uma mulher que está sempre olhando para você
Um mensageiro do sexo feminino
Uma mulher que olha de soslaio para você
Uma mulher cujo marido tenha tomado outra mulher sem justa causa
Uma mulher que odeia o marido, ou que é odiada por ele
Uma mulher que não tem ninguém para cuidar dela, ou mantê-la sob controle
Uma mulher que não teve nenhum filho
Uma mulher cuja família ou casta não é bem conhecida
Uma mulher cujos filhos estão mortos
Uma mulher que gosta muito da sociedade
Uma mulher que aparentemente é muito carinhosa com o marido
A esposa de um ator
Uma viúva
A pobre mulher
Uma mulher de prazeres
A esposa de um homem com muitos irmãos mais novos
Uma mulher vaidosa
Uma mulher cujo marido é inferior a ela em posição ou habilidades
Uma mulher que se orgulha de sua habilidade nas artes
Uma mulher com a mente perturbada pela loucura de seu marido
Uma mulher que foi casada em sua infância com um homem rico, e não gosta dele
Uma mulher que é desprezada pelo marido sem causa
Uma mulher que não é respeitado por outras mulheres da mesma categoria ou beleza como a dela mesma
Uma mulher cujo marido viaja muito
A esposa de um joalheiro
A mulher ciumenta
Uma mulher cobiçosa
Uma mulher imoral
A mulher estéril
Uma mulher preguiçosa
Uma mulher covarde
Uma mulher corcunda
Uma mulher anã
Uma mulher deformada
Uma mulher vulgar
Uma mulher mal-cheirosa
Uma mulher doente
Uma velha


94. Ecofeminismo de Vandana shiva

Às vezes você é descrita como “ecofeminista”.
SHIVA: Nunca me senti muito bem com rótulos. O ecofeminismo mistura as coisas. É muito elegante, do meu ponto de vista. Ele deixa de lado muitos outros aspectos da minha pessoa e do que eu faço. Deixa de lado a parte do legado de casta lutadora dos meus pais. Meu nome, Shiva, foi dado por meus pais para apagar sua identidade de casta. Hoje, onde quer que eu ache discriminação por casta, eu vou lutar contra ela. Em nossa organização, nós nos certificamos de que temos mulçumanos, hindus e cristãos trabalhando juntos, não permitindo que quaisquer inflexibilidades mutilem nosso potencial como grupo. Mas, em um certo nível, realmente não me importo com o rótulo do ecofeminismo porque acho que a combinação do feminismo com a ecologia cria dois potenciais. Em primeiro lugar, vi o feminismo que não é ecológico tornar-se um novo opressor. Vi o ambientalismo que não é feminista o bastante também se tornar um novo elitismo. O ecofeminismo previne essas duas novas formas de elitismo ao dizer “Não, o ecofeminismo trata da sociedade e da natureza. É sobre outros modos de pensar”. Não é possível ter apenas algumas mulheres no poder. Carla Hills e Madeleine Albright não simbolizam uma nova igualdade para as mulheres.
Veja a privatização da água nos EUA. Está sendo conduzida por grupos ambientalistas, só porque eles não pensam na sociedade. Eles pensam em uma espécie e dizem “OK, se puderem comprar a água daquele rio e salvar as espécies desta garganta em particular, por mim podem comprar que está tudo bem”. Eles não percebem como, nesse processo, estão criando todo um acordo político e social em torno de recursos naturais que será abusivo a milhões de outras espécies e, é claro, a milhões de nossos irmãos e irmãs neste planeta. Assim, o ecofeminismo, por estar intrinsecamente ligado à justiça social e aos limites ecológicos, é um bom termômetro para os tipos de problemas que vemos com o feminismo em voga e com o ambientalismo em voga.
[...]
Adotei o termo “mau-desenvolvimento” para indicar um desenvolvimento disforme, um mau-funcionamento do sistema, e para traçar seus vínculos com uma abordagem patriarcal, que combina a dominação sobre as mulheres à do capital sobre a natureza e sobre os indivíduos. O “mau-desenvolvimento” confina as mulheres na passividade, sobretudo, tratando a sua consciência como se ela não existisse. Nos últimos 35 anos, trabalhei com muitíssimas mulheres e sempre estou mais convencida de que são elas as “verdadeiras especialistas”, as únicas capazes de conhecer o funcionamento de um sistema e os modos para protegê-lo, e que o mundo é, em grande parte, “produzido” pelas mulheres. Porém, o sistema de pensamento reducionista e a organização econômica capitalista excluíram ou subestimaram as contribuições das mulheres, induzindo-as a acreditar que o trabalho, fundamental, de “manter a vida” não é um verdadeiro trabalho, porque não é produtivo. Segundo esse sistema de pensamento, de fato, uma mulher que mantém a própria família não produz nada, e uma comunidade que satisfaz todas as próprias necessidades alimentares mas não vende ou não compra alimentos não produz comida e não contribui com o “crescimento” e com o “desenvolvimento”. A adoção desse critério de medida levou ao “mau-desenvolvimento” e, com isso, à destruição da natureza, à exploração do “capital natural” e, junto com a negação das necessidades fundamentais, ao crescimento da pobreza.

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